O cenário apocalíptico produzido pelas enchentes no Rio Grande do Sul é uma reprodução, em larga escala, das tragédias em anos recentes no litoral paulista, na Baixada Fluminense, no sul da Bahia e em Recife. Em todos os casos, há centenas de mortes, milhares de desabrigadas e desalojados e cidades inteiras debaixo d’água. Pior: as cidades brasileiras não estão preparadas para lidar com os efeitos das mudanças climáticas, o que aumenta o risco de desastres frequentes e cada vez mais impactantes. De acordo com um estudo da Associação de Pesquisa Iyaleta, apenas 13,09% dos municípios têm planos de contenção de desastres. Dados divulgados pelo governo federal revelam, por outro lado, que o Brasil possui quase duas mil cidades suscetíveis a calamidades relacionadas a deslizamentos de terras, alagamentos, enxurradas e inundações.
Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Minas Gerais e Acre são os mais suscetíveis à crise climática, com risco maior nas regiões costeiras, diante da iminência do aumento do nível do mar. “A vulnerabilidade é uma realidade na grande maioria das cidades. Ter um tipo de estrutura mínima possível não é suficiente para estar apto à adaptação climática. Não adianta falar de infraestrutura sem ter recursos alocados. O que a gente vê normalmente é esses municípios operando na gestão de desastre, decretando calamidade durante o evento ocorrido, mas sem orçamento para prevenção. A cultura é de trabalhar a gestão de desastre, é de dizer ‘aconteceu, não é responsabilidade minha, e eu preciso de dinheiro agora porque a população está morrendo’. Essa é a cultura da gestão pública”, critica o geógrafo Diosmar Filho, pesquisador da Iyaleta e um dos coordenadores do estudo Adaptação Climática: Uma Intersecção Brasil 2022-2024.
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