Não bastassem as centenas de mortos e desaparecidos os milhares que perderam quase tudo nas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul, o Brasil parece perdido numa guerra interminável de desinformação.
Exacerbada por cortes e edições nas mãos erradas, fragmentos de informação ganham status de verdades absolutas. Tropeços factuais, comuns em coberturas ao vivo, são transformados em teorias de conspiração e sabotagem. Foi o caso, por exemplo, de casos pontuais de caminhões com donativos autuados. Os fatos, distorcidos pela retórica do influenciador Pablo Marçal, sugerindo uma operação coordenada do governo contra as vítimas da enchente. Nessa toada, uma experiente repórter do SBT virou bucha de ganhão em um ofensiva de Marçal contra a Natuza Nery, da GloboNews – e, nas entrelinhas, contra toda a imprensa e as instituições.
Outro exemplo envolve uma contenda entre a Folha de S. Paulo e a Secom lulista.
Primeiro, a Folha publicou uma reportagem acusando o governo federal de ‘recusar’ uma oferta de ajuda do Uruguai. Não é bem assim. O governo aceitou o empréstimo de um helicóptero uruguaio para resgate, mas declinou um avião cargueiro, duas lanchas e outros apetrechos, alegando impossibilidades logísticas — como a questão de aterrissagem, por exemplo.
Mais tarde, a Folha publicou outra matéria, acusando o governo federal de ‘mentir’ sobre aceitar a ajuda, uma acusação que a Secom refutou – apontando, com razão, a falta de evidência clara de mentira.
Os dois casos remete, a uma pérola da sabedoria popular da internet: a Lei de Brandolini. O postulado é simples: o esforço para rebater uma bobagem é sempre muito maior que necessário para produzi-la. É preciso um fuzil, cada vez maior, para matar uma formiga.
Entre meias verdades e acusações recíprocas, o esforço reativo do governo para rebater boatos e o bate boca entre apoiadores dos diferentes lados na busca por um ‘culpado’ não parecem produzir muito mais do que ruído nas redes, acabando por amplificar a boataria mal intencionada ao invés de neutralizá-la. Uma pesquisa da Quaest, divulgada hoje, mostra que a maioria dos brasileiros aprova a resposta do poder público à tragédia, com variações pequenas entre os governos Lula, Leite e o do prefeito Sebastião Melo – 53% e 54% e 59%, respectivamente.
Outros agentes, contudo, tomaram a dianteira na percepção pública sobre a postura diante da tragédia: segundo a Quaest, artistas e influenciadores alcançam uma aprovação de 73%, lideranças locais 72%, igrejas 70% e empresas 65%.
A PF e a Justiça se movimentam para punir com a lei os disseminadores de fake news. A solução definitiva, contudo transcende a simples penalização. Exige a responsabilização rigorosa e maior transparência das plataformas digitais. Mais fundamental ainda é a transformação deste modelo de jornalismo, de negócios, de fama e de política que se alimenta da indignação e da reatividade a qualquer custo. Até lá, viveremos todos sob os tacões da Lei de Brandolini.
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